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Popularizada no contexto das transações financeiras envolvendo criptomoedas, a tecnologia do blockchain está associada a uma série de outras funções em potencial. Suas características contribuem para gerar melhorias nos processos internos de empresas e indústrias de diferentes setores, possibilitando, entre outros, a assinatura de contratos, a prevenção de fraudes e o aumento da seguranca.

Nesse contexto,  a sua utilização em instituições bancárias vem crescendo de maneira significativa, com os usos financeiros chegando a representar cerca de 30% das aplicações totais do blockchain. Quer saber como? Então confira, neste texto, como essa nova base de dados distribuída pode aprimorar as atividades dos bancos, sejam eles públicos ou privados!

Como o blockchain pode ser útil no contexto das transações financeiras?

Quando um pagamento é feito, ele precisa ser conciliado em várias instituições diferentes — os bancos de quem recebe e de quem paga, operadoras de cartão de crédito como Visa ou Mastercard, e outros intermediários. Isso acontece porque cada empresa tem sua própria base de dados que, na grande maioria das vezes, é fechada, dando início a uma espécie de “telefone sem fio”.

Dito de outro modo, é feita uma comunicação repleta de ruídos e, sobretudo, potencialmente imprecisa. Isso contribui para aumentar custos operacionais, já que são necessárias mais máquinas e pessoas para verificar todos os pontos de uma transação. Além disso, o processo torna-se lento e demorado. Em transferências internacionais, por exemplo, as taxas cobradas tendem a variar entre 5 e 10% do valor transferido, e o dinheiro creditado pode demorar mais de uma semana para chegar a seu destinatário!

Em contrapartida, uma base de dados unificada diminuiria o risco de imprecisão de transaçôes financeiras, tornando-as mais seguras. Não é por acaso que, atualmente, as instituições que detêm mais patentes de blockchain são bancos — eles estão ativamente desenvolvendo consórcios para criar os blockchains privados entre si e assim facilitar fluxos financeiros.

Richard da Silva, superintendente de tecnologia no banco Santander, disse, em entrevista ao Valor Econômico, que um fluxo tradicional leva de três a cinco dias, ao passo que, nesse sistema, a espera não duraria mais que 24 horas.

Como funcionam os blockchains privados?

Para muitas pessoas, a ideia de blockchain remete somente ao contexto das moedas virtuais, como bitcoin e ether. Contudo, essas redes são públicas e não se mostram necessariamente como boas alternativas para instituições bancárias.

Por conta disso, surgem projetos como o Corda — consórcio voltado à criação de blockchains privados para as transações entre financeiras, que atualmente possui mais de 200 organizações participantes. A iniciativa partiu de alguns dos principais bancos do mundo, sendo que, paralelamente a isso, as organizações também buscam desenvolver individualmente suas próprias plataformas.

No cenário nacional, cabe destacar o Itaú, que divulgou a implantação de tecnologia em fevereiro de 2018. À época, conforme divulgado pelo G1, a ideia era contar com a rede apenas para contratos de derivativos de balcão feitos com outros bancos. Em entrevista ao portal, Cristiano Cagne — diretor de operações do banco — disse apostar na rede visando à “força da segurança e da criptografia”.

Quais benefícios o blockchain traz?

Conforme dito acima, o blockchain pode trazer enormes ganhos de eficiência, reduzindo tanto o tempo quanto o custo do compartilhamento de informações entre diferentes instituições. Ele também ajuda a minimizar a probabilidade de erro durante o processo de conciliação. No entanto, essas não são as únicas vantagens trazida por essa tecnologia. Veja abaixo mais exemplos!

Aumenta a segurança dos dados

O blockchain não apenas torna a transmissão de informação mais segura, mas o seu próprio armazenamento. Essa base de dados, por ser distribuída, não possui um ponto central de vulnerabilidade como nas databases tradicionais, ou seja, impossibilita que hackers tenham acesso e tomem o controle de um sistema.

Fraudes também se tornam mais difíceis com essa tecnologia. O blockchain é um registro imutável, ou seja, uma vez adicionados, dados não poder ser alterados ou removidos. Mais ainda, como a sua verificação é baseada em consenso, caso alguma alteração seja feita em um dos “nós” da rede, ela será rejeitada pelos demais e não será inserida.

Dá mais transparência às transações

A transparência é um fator preponderante para quem lida com operações comerciais de ordens significativas. Isso ajuda a entender porque bancos de grande porte são os principais responsáveis pelo desenvolvimento da aplicação de blockchain na atualidade. Além das instituições já citadas ao longo do artigo, outras financeiras investiram com afinco na tecnologia. É o caso do HSBC e do Bank of America.

Embora resguardem a privacidade das informações, esses livros de registro permitem a criação de “nós” de verificação — ou seja, que não adicionam dados sobre transações, mas apenas os conferem. Isso atenderia bem ao intuito de governos e agências reguladoras, facilitando a fiscalização promovida por esses órgãos.

É válido relembrar a crise financeira de 2008, eclodiu, em larga medida, por causa da nebulosidade interna dos bancos. O uso do blockchain desponta assim como uma opção viável para aumentar a transparência e ajudar a prevenir problemas estruturais.

Ajuda a cumprir regulações específicas

Mais do que oferecer imutabilidade, auditabilidade e possibilitar o rastreamento a partir da data e do horário em que os registros foram feitos, o blockchain desempenha um papel importante em termos de compliance. Regulações específicas, como KYC (know your customer – conheça o seu cliente) e AML (anti-money laundering – contra a lavagem de dinheiro), se tornam mais simples de serem cumpridas com a sua utilização.

Os processos do KYC, em particular, ficam simplificados pela maior facilidade em se verificar e comprovar a identidade do cliente. Além disso, caso a informação sobre o cliente seja compartilhada entre as diferentes instituições, esse procedimento só terá que ser feito uma vez, ao contrário do que ocorre atualmente, em que ele é repetido cada vez que uma conta é aberta.

As regras relativas à lavagem de dinheiro também são reforçadas pelo fato de se poder rastrear as operações feitas pelos clientes e identificar operações suspeitas praticamente em tempo real.

Automatiza pagamentos

Além de otimizar as transações como um todo e colaborar para a segurança e transparência dos bancos, o blockchain também possibilita a automatização de pagamentos. Um demonstrativo nítido disso são os smart contracts, ou contratos inteligentes. Você pode programar a quitação mensal do aluguel, por exemplo, sem precisar se deslocar ou contar com um serviço humano para transferir esse montante.

Há como definir certos pressupostos para que o pagamento seja feito, inclusive. Sendo assim, é viável programar transferências recorrentes e, com isso, evitar calotes em potencial, já que as movimentações só acontecerão sob as condições determinadas nesses contratos. Em suma, ao programar um contrato inteligente, é possível automatizar processos e, principalmente, otimizá-los.

Conclusão

Enfim, as transações financeiras e o setor bancário em geral têm muito a ganhar com a implantação do blockchain. Os benefícios vão da segurança ao armazenamento de dados e automatização de processos.

Note, no entanto, que essas vantagens não querem dizer que não existem desafios pelo caminho. A indústria bancária é uma das mais reguladas do mundo, e a implementação de novos sistemas deve ser capaz de cumprir regras provenientes de jurisdições diversas. Há também questionamentos acerca da manutenção da privacidade dos clientes e de suas transações numa base de dados compartilhada, bem como sobre a necessidade de se criar parâmetros para a interoperabilidade entre instituições. Por fim, o investimento inicial para a infraestrutura é relativamente alto, apesar de ser pago no médio e longo prazo com os ganhos de eficiência alcançados.

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